COLUNA É SHOW! – Läjä Festival com Motosierra, Facada, Merda, Water Rats e Retirante Cósmico (Jai Club/SP)

laja

Feriadão em São Paulo, sol durante o dia e um frio não muito intenso na parte da noite, tudo perfeito para sair de casa e curtir um rock “veloz” na primeira edição do Läjä Festival em São Paulo, que contou com a banda uruguaia Motosierra e as brasileiras Facada, Merda, Water Rats e Retirante Cósmico.

O show estava marcado para às 17h e alguns minutos depois deste horário foram abertas as portas do Jai Club, um espaço para shows que existe desde 2015 na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

A primeira atração da noite, por volta das 18h30, foi a one-man band instrumental Retirante Cósmico, que é um novo projeto do músico Rafa Moraes, que saiu de Maceió para viver em São Paulo, onde costuma se apresentar na Avenida Paulista. O som do Retirante Cósmico mistura ritmos como jazz e lambada, com uma pegada bem nordestina.

No show Rafa solta instrumentos pré-gravados e acompanha tudo com a sua guitarra. A escolha do artista de abertura para um festival com bandas tão intensas foi bastante inusitada, a casa ainda não estava cheia como ficou algum tempo depois, muitos conversavam com seus amigos, com a música do Retirante Cósmico ao fundo e outros curtiam a apresentação, com alguns até arriscando alguns passos de dança.

Logo em seguida sobe ao baixo palco do Jai Club a banda “paranaense-paulista” Water Rats. O quarteto nasceu em Curitiba e hoje em 2012 e hoje em dia tem a sua base em São Paulo. O grupo conta com Capilé, também do Sugar Kane, em uma das guitarras e muitos dos vocais da banda, que são divididos com o outro guitarrista, Pedro Gripe. O Water Rats, desde o lançamento do vinil 10″ Hellway to High, está com uma pegada bem mais hardcore/punk do que a do início da banda. Hellway to High foi gravado em 2016, nos Estados Unidos, e quem assinou a produção foi Jack Endino, que já trabalhou com bandas como Nirvana, Mudhoney e Soundgarden.

O hardcore/punk norte-americano estilo anos 80 foi a tônica do show, muitas músicas, lotadas de energia, em poucos minutos. A banda parece que a cada lançamento deixa mais de lado a influência do grunge do Nirvana e adiciona cada vez a intensidade de bandas como Circle Jerks e Black Flag ao seu som. O show das “capivaras” começou um pouco morno, inclusive com uma pessoa pedindo que eu saísse da frente dela no início da apresentação, pois estava atrapalhando a sua visão. Nunca tinha visto isso em um show de rock, mas alguns minutos depois as primeiras rodas da noite tomaram conta da boca do palco. Ótimo show que esquentou o clima do Läjä Festival.

Na sequencia subiu ao palco o trio Merda, que para muitos presentes era a grande atração da noite com seu hardcore escrachado. O guitarrista da banda é Mozine, dono da Läjä Records, responsável pelo festival, e baixista do Mukeka di Rato. O primeiro álbum do Merda, Curtição dos Jovens!, foi lançado em 2001 e de lá para cá já lançaram diversos splits eps, compilações e outros três discos, o último Indio Cocalero de 2012.

O show do Merda foi onde o público mais participou. Muitos cantaram juntos, até em cima do palco, músicas como “7 x 1”, “Eu Vou Cagar Em Cima De Você”, “Sandrinho” e fecharam o seu setlist com “Nem Todo Brasileiro Que Gosta de Futebol Gosta do Neymar”.

A penúltima banda da noite foi a cearense Facada. Grindcore brutal e avassalador, que reuniu todos os “grinderos” perto do palco para a celebração aos blast-beats e vocais urrados. O show contou com músicas de todos os três álbuns da banda, como as faixas “Nadir”, “O Cobrador” e “O Joio”, e também duas que estarão no próximo álbum da banda, que será lançado pela Läjä Records. O disco leva o nome de “Nenhum Puto de Atitude” e conta apenas com covers de grupos como Impaled Nazarene, Dorsal Atlântica, Misfits e Titãs. No Jai Club tocaram “Sailin’ on”, dos norte-americanos do Bad Brains, e “Maconha”, da “banda do patrão”, Mukeka di Rato. É a terceira vez que vejo o Facada ao vivo e cada uma com um baterista diferente, porém todas as apresentações sempre são de alto nível e nesta última noite de quinta-feira não foi diferente.

Para encerrar o evento os uruguaios do Motosierra, que há seis anos não vinham ao Brasil mas que já são velhos conhecidos do público brasileiro. De 2002 até 2011 o quarteto uruguaio esteve sete vezes em terras tupiniquins, tendo participado de festivais como Goiania Noise e Mundano. A banda foi criada no final dos anos 90 e XXX é o primeiro álbum, lançado em 2001. Hoje em dia a banda é bem menos ativa, não lança um álbum desde 2007 e depois deste registro voltou a lançar músicas inéditas apenas ano passado, duas novas faixas no EP Buzo Nuevo.

O vocalista Marcos “Motosierra” Fernandez é uma grande figura, seu corte de cabelo, roupas e até tipo físico lembram muito o do cantor norte-americano Iggy Pop. Muitas vezes essa forçada de barra acaba deixando tudo um pouco caricato, mas o vocalista, junto com a banda, que é extremamente competente, acaba tornando tudo alto, barulhento e divertido, como manda a cartilha do rock n´roll. Destaque ao baterista Walo Crespo, com uma forte pegada setentista.

O Jai Club é uma excelente casa de shows. Bem localizada, tem palco baixo e boa qualidade de som, além de não ter as revistas invasivas e seguranças folgados de locais maiores. O único problema, como em muitas outras casas, continua sendo o preço das bebidas. Duas cervejas long neck ou uma dose dos tragos mais baratos já sai mais caro que o preço do ingresso e isso acaba afastando quem gosta de ver os shows e também tomar a sua cerveja.

Mas como o que mais importa é o som, muito bacana a iniciativa da Läjä de juntar bandas barulhentas, mas de estilos diferentes, vindas de diversas partes da América do Sul e cobrando um preço honesto pela entrada. Na porta o ingresso para o festival foi R$ 20. Esperamos mais aventuras do Crackinho, o mascote da Läjä Records, pelas ruas de São Paulo nos próximos anos.

crackinho

 

 

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